quarta-feira, 10 de março de 2010

Letra da música: Pretérito Vago



Allan Jofre

Meu passado virou o futuro
Meu futuro em cima do muro
Meu passado que era uma pena
Meu futuro agora, condena
Meu futuro que é a verdade
Meu passado oculta a realidade

Minha vida o futuro o passado, o presente, que agora é pecado.

Passado virou o meu muro
Em cima, o passado futuro
Futuro era pena e condena
O passado condena, que pena
Futuro passado é realidade
O presente oculto, agora é verdade

Minha vida, o futuro, o passado
O presente que agora é pecado
Pecado agora presente
Minha vida, o futuro, pretérito vago.

Êne-Á-Tê



Allan Jofre

Do nome Natália, do diminutivo no apelido, do sorriso real, do aumentativo no significado "Mulher", da simplicidade da palavra "Menina", do coração que ultrapassa os limites concretos, da voz que acalma, do olho que enxerga a lucidez e a falta dela quando convém.
Da beleza que se confunde com a personalidade, das curvas perfeitas como Niemeyer, da boca, do pêlo, do peito, como Caetano, dos movimentos comunicáveis como Chaplin, do amor que come meu nome, minha identidade, meu retrato e tira meu medo da morte, como João.
Do entender de sonetos, cantigas, poesias, dores e alegrias de Vinícius. Minha chapação, meu domingão de Sol, o que meu médico receitou, como Zero Quatro.
Risofloras, Magrelinhas, Bárbaras, passam longe da menina que é "Todas elas num só ser", como disseram Rennó e Lenine.
Não consigo viver sem.
Almoços, jantares, líquidos, equivalem ao mesmo patamar de importância.
N-A-T-Á-L-I-A... ...A explicação dos efeitos...

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Letra da música: Rotineira


Allan Jofre
De cada esquina, lugar tão perto

Pagando limpa de peito aberto

Buscando pipa no azul do teto

E eu ainda no avesso do inverso

Ê mundo louco...

Perdendo luta na Lua perdida

Vendendo a alma e a carne sangria

Escorrendo calo no final do dia

Mentindo imagem, escondendo gíria


Ê mundo louco...


No alívio da sexta, na corrida do bar
No poder do ilícito ou no banho de mar
No carinho da nega, uma dupla singular

Descansando o espírito quase a pé sem notar

Ê mundo louco...


Que desse mundo eu só levo a saudade

Que desse mundo só levo a amizade

Que desse mundo só levo a vontade

Meu amor...
Que mundo louco...

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O Palhaço da Princesa.


Allan Jofre

Após um daqueles almoços que deixam o corpo mole, me jogo no sofá, ligo a TV, para celebrar meu ritual dominical. Zapeando de canal a canal, procuro algo que não restrinja meu tédio a Faustão e Gugu.

Deparo-me com um daqueles desenhos americanos onde a gritaria histérica e o humor dentro de armas que explodem nas mãos de vilões, são à base do riso infantil. Dois canais adiante vejo uma animação de um palhaço e uma princesa.

O palhaço sempre com o olhar triste, uma característica marcante desse objeto do riso, e um amor não correspondido pela filha do rei de sua corte. Aquilo me fez pensar no abismo que existe entre os dois, tanto no quesito financeiro como no quesito do poder.

Mais uma passada de canais e paro na TV Senado e me esbaldo com a saturação de promessas, infelizmente afundei meu domingo.

Não que a política só me cause o sentimento de ódio e decepção, mas há tempos que estou desacreditando no país. Meus heróis ou foram mortos por aqueles que gritam mascarados em cima do palanque, ou se corromperam entre dólares na cueca e “mensalões”.

Meu domingo passa como essa decepção passa, mas a esperança no palhaço, digo, no povo, ainda é grande, mesmo que a princesa, digo, o poder, seja egoísta. E mais uma vez meus ideais utópicos fecham meu fim-de-semana construindo uma ponte para ligar a força do palhaço à injustiça da princesa cega.

Um Obrigado Virtuoso. (Crítica DVD "Obrigado Gente" de João Bosco)




Allan Jofre

Do grito do ronco da cuíca até o tiro de misericórdia, das escadas da Penha até a saída de emergência. João Bosco mostra nessa sua apresentação sucessos como “Papel Machê”, “Linha de Passe”, “Jade” e “O bêbado e a equilibrista”. Com participações especiais de Djavan, Hamilton de Holanda, Yamandú Costa e Guinga, o violonista e compositor mostra todo seu virtuosismo no instrumento, suas vocalizações marcantes e toda riqueza da brasilidade nas suas letras, sempre com parcerias primordiais.

João Bosco, que já gravou um álbum ao vivo só voz e violão e que ficou conhecido como a Centésima Apresentação, sempre se destaca no palco pela energia, não só pelo “feeling” no instrumento que o acompanha, mas sim, pela força na voz, e “brincadeiras” com as vogais que lhe são peculiares.

O “set list” do show é destacado por parcerias do músico com Aldir Blanc, grande músico e psiquiatra que ficou famoso pela sua parceria com João nos anos 70 graças à cantora Elis Regina, e com Wally Salomão, grande escritor e produtor musical. Uma das crias de Wally foi Cássia Eller. A participação do violonista Guinga no DVD resgatou a parceria de João Bosco com Blanc, eles haviam passado anos sem compor juntos, e com a ligação de ambos com Guinga a parceria retornou.

Na música “Linha de Passe”, encontramos dois músicos de alta qualidade, virtuosismo e brasilidade no instrumento, Ney Conceição no contrabaixo de seis cordas mostra sua “arte autodidata”, o baixista sola nos graves com segurança e técnica apurada. Hamilton de Holanda também participa da faixa, um duelo de bandolim, grave do baixo e violão trazem o “êxtase” da música. Hamilton é da nova safra de músicos cobiçados por grandes nomes da MPB, gravou um cd de samba com Zélia Duncan. A banda em uma sincronia perfeita, com o seu maestro no violão, dá a base para os solos “metralhantes” de Hamilton no bandolim e Ney no baixo.

Yamandú Costa, músico novato, mas de muita experiência e reconhecimento, participa na faixa “Benzetacil”. Yamandú com seus solos sujos e de uma velocidade sem igual, é um ídolo de João Bosco, aliás, o violonista é admirado também por Toquinho. Hamilton de Holanda fez uma série de shows com Yamandú, a preocupação dos dois era no atropelamento das notas, mas as apresentações foram um sucesso, souberam dividir bem o bombardeio de sons exalados pelos seus instrumentos.

Assistindo a apresentação conseguimos ver o passado e o futuro da música brasileira, deveríamos dar mais valor ao que há dentro de nosso país, elogiamos guitarristas técnicos, mas desconhecemos os nomes do nosso virtuosismo seja ele em qualquer instrumento.

O espetáculo inicia seu desfecho com “Corsário”, a participação de Djavan harmoniza com a letra poética da canção, a voz suave e ao mesmo tempo energética do cantor faz com que a faixa se torne um dos altos do show. Na seqüência a canção mais famosa do repertório “O Bêbado e a equilibrista”, que ficou mortalizada na voz de Elis Regina. A música carrega um valor histórico pesado, já que no tempo da ditadura o som trazia uma indignação e uma crítica ao poder militar e uma valorização do povo brasileiro.

Após “Quando O Amor Acontece”, parceria de João com Abel Silva, compositor e escritor brasileiro. O músico fecha a apresentação com “Papel Machê”. Um grande desfecho para essa grande mostra artística, deste personagem da música brasileira que é criticado por muitos, pois o seu método de cantar é diferenciado, mas que foi contemplado com muitos aplausos pelos que admiram o violão bem tocado e um cantar fora de padrão. Sem dúvida, gostando ou não, “Obrigado Gente!” é uma demonstração da tradicional e da atual música brasileira, clássicos na mão de virtuosistas jovens quebram um possível debate sobre a qualidade do futuro da nossa arte.

Letra da música: Cidade Selvagem


Allan Jofre


Andando pela cidade eu vejo os carros, mendigos jogados nas calçadas, vivendo o caos.

Andando pela cidade eu vejo o cinza do céu, estampado com a fumaça, fumaça de metal.


A cidade me engole, a cidade selvagem, a cidade de poucos, a cidade que não para.


Quero sair daqui, quero me divertir, paz é longe daqui, a cidade.


Televisão, rádio, carros, vidro, aço, egoísmo e ambição.

A fome, o rico, o pobre, a fumaça, são os filhos desse chão.

Ecólogos alertam os perigos, mas sociedade não ouve.


Allan Jofre

Há muito tempo vemos e ouvimos nos mais diversos meios de comunicação as pessoas falarem do aquecimento global, da devastação da Amazônia e de fenômenos que são conseqüências da ação do homem na natureza. E muitas dessas informações são estudadas e alertadas pelos ecólogos e ONGs, mas passam despercebidas pela sociedade, sem ter um destaque ou uma preocupação que seja maior que o jogo de futebol da rodada ou o capítulo da novela do dia anterior.

A ONG Greenpeace chama a atenção da população para a importância da preservação e do perigo do aquecimento do planeta para a própria sociedade. Em entrevista, um ativista do grupo, que não quis se identificar por uma questão de “unidade múltipla” do Greenpeace, diz que o alerta deve partir das conseqüências diretas já que falar do próximo não mobiliza a sociedade atual. No dia 4 de Abril desse ano membros da organização estenderam uma régua de medição do nível do mar na praia de Copacabana, para mostrar a gravidade e o grau dos danos que já foram causados pelo aquecimento, e que o Rio de Janeiro é uma área muito vulnerável a essa elevação. Além do Rio de Janeiro a Amazônia também é bastante vulnerável e pode sim ver sua grande parte se tornar cerrado, diz o cientista Carlos Nobre, já que o estudo divulgado pelo Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (INPE) mostra que o aumento médio da temperatura global pode subir de 3 à 8 graus Celsius.

Enquanto os cientistas e ecologistas nos mostram todos esses perigos que estão mais próximos do que imaginamos, o Brasil e a Indonésia trabalham no aprimoramento da vedete do momento, os biocombustíveis, e dizem que eles, além de bens lucrativos, são um bem para o combate ao aquecimento global. No entanto, ONGs ambientais mostram que as queimadas para transformar grandes áreas verdes em plantações para a extração do biodiesel através do óleo de palma causam um dano proporcional ao dos automóveis, sendo a quantidade de dióxido de carbono comparável. Os ecólogos alertam a União Européia para uma diminuição na futura importação do novo combustível, já que quanto maior a procura, mais áreas terão de ser devastadas e queimadas.

Especialistas nos alertam, mas o poder do Estado não se mobiliza para estes fins, como no caso mostrado do Biocombustível e do famoso Protocolo de Kyoto, que visava uma emissão menor de gases poluentes, e não foi assinado por todos os países, exemplificam a falta de zelo com a própria vida. É como a profecia feita pela velha índia Cree a mais de 200 anos: "Um dia, a Terra vai adoecer. Os pássaros cairão do céu, os mares vão escurecer e os peixes aparecerão mortos na correnteza dos rios. Quando esse dia chegar, os índios perderão o seu espírito, mas irâo recuperá-lo para ensinar ao homem branco a reverência pela sagrada terra. Aí, então, todas as raças vão se unir sob o símbolo do arco-íris para terminar com a destruição. Será o tempo dos Guerreiros do Arco-Íris.". Enquanto a profecia não chega ao seu fim vemos a ficção virar realidade.

Negócio-Ócio


Allan Jofre

Andando pela cidade de São Paulo encontramos dentro de ônibus e trens a verdadeira fonte do funcionamento de um país. Estamos trabalhando para que a máquina do capital funcione, mas é difícil pensar que mesmo nas horas de folga vivemos em função da fonte de renda.

Vemos mendigos pedintes, esses que não pensam no prazer e sim na sobrevivência, engravatados com o celular na mão, esses que se esquecem da família em um copo de whisky, e os meros funcionários com uma pasta na mão lutando contra o tempo para não serem chicoteados pelos chefes, que querem o seu “cowboy” no fim do dia.

É muito subjetiva a idéia do chamado “ócio”, já que esse deveria ser o descansar, o aproveitamento de sua casa junto com as pessoas que realmente fazem bem para gente. Mas não. Trocamos esse tempo pela companhia de pessoas que tendem a ser iguais a nós no mundo da correria e, mesmo assim, os assuntos não mudam, são sempre as críticas ao chefe ou a infelicidade de se ganhar uma promoção. Digo infelicidade, pois se for contemplado com um cargo maior, parabéns, provavelmente você se tornará mais individualista e ambicioso.

Família “é quem você escolhe pra você”, “quem cria”, ou até o famoso clichê “papai mamãe, titia”. As interpretações são muitas, mas será que o valor dado ao nosso “negócio”- que para muitos é a negação do ócio - é tão importante como quem realmente faz a gente crescer na vida? Nesse âmbito urbano não nos apegamos muito mais àqueles que vemos dentro dos arranha-céus? Quantos amigos você tem? Há quanto tempo você não faz um churrasco com quem o ajuda de verdade? E uma reunião de negócios?

Nessas breves palavras não quero dizer o que é certo ou errado, o que é ser feliz ou triste, mas provocar uma reflexão sobre se o que estamos fazendo é para o nosso próprio bem ou para o bem de um sistema econômico. A felicidade se encontra, como pergunta Tom Zé, “Do outro lado do avesso? Do outro lado do abismo? Do outro lado do arco-íris?”. Não sei, mas vou ocupar meu tempo com a minha família e tentar esquecer temporariamente o meu negócio, pois como diz a poesia de Lobão, “a vida é doce depressa demais”.

Vida Maquinada



Allan Jofre

São cinco e meia da manhã, relógio desperta, mais um dia para sair na correria. Dois ônibus e um metrô, para chegar às sete e meia em ponto no centro de São Paulo. Não contarei com a ajuda do trânsito, muito menos com a da superlotação. Os sinais demorados e o aperto entre a porta do ônibus aumentam minha agonia.

Enfim chego ao metrô e me esbaldo na enorme fila para atravessar a catraca. Após esse combate no subsolo urbano, caminho em direção ao ponto para embarcar no segundo transporte viário do dia. O mesmo drama volta acontecer.

Pronto, o destino foi alcançado, mas com dez minutos de atraso. Críticas do chefe e ameaças ao emprego alegram meu dia. No mundo urbano de um cidadão brasileiro que utiliza o transporte público o horário exato é sempre uma incógnita. Se eu tivesse um carro com ar condicionado não sofreria tanto, se eu fosse chefe não receberia críticas, mas o que me resta é despertar e voltar mais cedo do meu horário de almoço, já que meu chefe roubou quinze minutos do meu momento de descanso.

Seria o homem um companheiro da máquina e vice-versa?Ao ver o cotidiano ligado ao transporte público e a cobrança exagerada pelo horário, o homem seria a própria máquina. A máquina e o homem, o homem e a máquina, a máquina-homem, o homem-máquina.

Fast-Food de Livros-Máquinas ensinam a fazer dinheiro.


Allan Jofre/Pedro da Rocha

Estação da Consolação, Bernardo vai para o trabalho, espera o metrô. Olha de lado, há uma máquina encostada na parede, o vagão não chega. Aproxima-se, lê as opções – é daquelas que o cliente bota dinheiro e cai o produto - procura em seu bolso, tem cinco reais. Insere, aperta a opção e... Pega seu mais novo exemplar de “A arte da guerra”, de Sun Tzu.

Essa idéia nasceu com o empresário Fabio Bueno Netto, de 47 anos, dono da empresa 24x7 – 24 horas por dia, sete vezes por semana. Após tentar implantar projeto que visava massificar o livro vendendo-o mais barato, esbarrou no alto custo de logística, marketing, distribuição. Passando em frente a maquina de refrigerantes na FIESP, Netto pensou em botar livros ali. Hoje vende mais de 500 títulos espalhados em 18 pontos de venda localizados em metrôs de São Paulo. Expandi agora seu projeto implantando em outras cidades, como Rio de Janeiro e Maringá.

O grande atrativo é o preço dos exemplares, que custam em média 5 reais. Alguns mais caros, como Sagarana, de Guimarães Rosa, custa R$ 24,99, também tem boa vendagem. A estratégia para conseguir a comercialização a baixo custo é negociar, em grandes quantidades, livros que já não possuem direitos autorais.

Pela concessão do espaço a uma máquina pagam 550 reais para o metrô. Atualmente a vendagem é de aproximadamente 13 mil livros por mês; a estação campeã é a Sé (6 mil e 500 exemplares comercializados), que possui 10 máquinas espalhadas por seu território. Alguns dos livros que mais saíram foram: Código Civil brasileiro (Editora Exped); Arte da Guerra, Sun tzu (Editora Universo dos Livros); O príncipe, Maquiavel (Editora Escala). As pessoas escolhem os livros de acordo com as opções, diferente de uma livraria, que o cliente na maioria das vezes vai em busca de uma obra específica. Este é o motivo da alta vendagem de livros pouco procurados em outros lugares. “A Missão da 24X7 Cultural é facilitar a formação de novos leitores, incentivar o hábito da leitura de forma sustentável e por consequência melhorar os índices de alfabetização funcional do Brasil.” diz Netto.

Perguntada o porquê da compra de um exemplar, a caixa de um restaurante, Fabiana Pratta, diz que o preço e a facilidade do produto estar no caminho entre sua casa e seu trabalho fazem com que ela consuma esse produto cultural, já que o tempo para ir a uma livraria é quase inexistente.

Pode-se comprar livros pela metade de seus preços. Cada moeda de 1 centavo inserida vale 2 centavos. Em cada livro esta preso com durex uma moeda de 1 centavo, é o troco, pois todas as opções têm preço quebrado de 99 centavos; caso não tenham esta moeda, é colocada uma de 5 centavos. Por isso o incentivo às pessoas para que juntem as insignificantes e tão esquecidas insígnias da nossa economia.

Esta é a nítida prova que há procura por livros quando estes se tornam acessíveis. Pode-se juntar o incentivo à cultura com os lucros. ”Há mais de quatro anos, ininterruptamente, estamos vendendo livros para todos os gostos e bolsos, a maioria até R$ 4,99 em máquinas de vendas automáticas.”, diz Bueno Netto.

Vem de Berço


Allan Jofre

Assistimos a morte banalizada todo dia nos programas de fim de tarde, e sempre é citada a crueldade de quem comete o crime, e o grau de marginalização desse indivíduo colocado como o responsável pela situação. No Brasil a busca pelo impacto na sociedade é uma meta para esses jornais, o estranho é que quando surge um caso de brutalidade seguido de morte, começam a surgir uma sucessão de matérias assim, seria uma coincidência ou seria um destaque maior para esta sessão?

O ser humano deve ter uma moradia, um plano de saúde que funcione, água, um sistema eficiente de saneamento básico, diversão, educação, e o pão de cada dia, quem não tem estes recursos deve sim reivindicar, pois é um direito do Estado dar o básico para a população, mas, e aquela família que tem uma renda de 300 reais mensais, que o filho pequeno brinca de ser bandido, e vê ali perto de sua casa um futuro próximo a ele, e todo um status no mundo em que vive. O garoto presencia dentro da sua casa o pai desamparado, a mãe doente, os irmãos chorando de fome. A escolha feita é o crime, o mesmo que ele corre desde que se deu por gente, que já faz parte da sua vida e do seu dia-a-dia. Essa escolha não é feita só porque é o caminho mais curto, mas é um caminho palpável e único na vida desse menino, que cria a quebra da censura se tratando de morte, e também quebra todo um sentido para vida, já que a dele é só mais uma. Agora, se esse cidadão sofrido, desce o morro, e em um assalto mata uma senhora de classe média alta, ele vai para a prisão, e lá é tratado como um animal, aflorando seus instintos e trazendo uma regressão dentro do seu convívio e do modo de enxergar as coisas, ele nunca vai ser reabilitado dentro da prisão, no sistema atual.

Eu ouvi uma estudante dizendo “dentro da prisão há uma seleção de presos, eles mesmos tem controle de quem deve ou não deve morrer.”, eu penso que não seria uma “justiça com as próprias mãos” e sim, um estouro nos instintos primários do ser humano, em luta a sobrevivência, é como o rapper Mano Brown diz na letra de Diário de um Detento sobre a sua estadia no Carandiru “Já ouviu falar de Lúcifer? Que veio do Inferno com moral. Um dia no Carandiru, não, ele é só mais um. Comendo rango azedo com pneumonia.”. O sistema carcerário atual do Brasil não serve para reestruturar e sim expor ainda mais as dores e a visão de que não existe vida. E ouvimos pessoas falando em pena de morte, um país que não tem um poder de julgar o que é certo e errado, quem é culpado ou inocente, jamais deveria pensar nessa hipótese que é um retrocesso imenso, onde o Estado se iguala ao autor do crime. O massacre do Pavilhão nove no Carandiru é um exemplo cruel de um pena de morte oculta, os presos morreram por quererem seus direitos, e como esse pavilhão só tinha casos de crimes gravíssimos, “Fleury e sua gangue” como diz Mano Brown, acabam fazendo um extermínio de presos.

Seria fácil para a classe média da sociedade essa adoção da pena de morte, pois existe uma imunidade. A pena de morte é uma visão de eliminação do ser sofrido, e mal estruturado, é um meio fácil para acabar com a marginalidade, mas assim o marginal de agora é o centro, é o Estado, que mata os próprios erros para utopicamente concertá-los, eliminando o próprio futuro, e quem sabe uma possível solução.

Jornalismo e Ética



Allan Jofre/Pedro da Rocha

O artigo nº 7 do Código de Ética dos Jornalistas diz: “O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade dos fatos, e seu trabalho se pauta pela precisa apuração dos acontecimentos e sua correta divulgação.”.

A matéria do jornalista Sérgio Martins, publicada na revista VEJA de 21 de setembro de 2005, foi falha quanto à apuração dos fatos. Segundo o próprio autor, deu “... muita dor de cabeça...”. Em sua matéria sobre as apresentações que o cantor americano Moby fez no Brasil, Martins o comparou ao músico José Miguel Wisnik, chamando ambos de “... chatos de galocha...”, atribuindo a este uma frase de Caetano Veloso, uma frase infeliz, segundo Martins. Caetano fez uma nota para ser publicada pela revista, a qual foi rejeitada, e depois postada no BLOG do jornalista Ricardo Noblat. Acontece entrou em contato com o secretário de redação da VEJA, Julio César de Barros, e com Sérgio para saber o porquê da não publicação. Ambos não quiseram se pronunciar a respeito.

Este caso traz a discussão do compromisso que um veículo de comunicação tem não só com a apuração dos fatos, citada acima, mas também com a sociedade e personagens de suas pautas. Um dos meios que a VEJA teria para dar um direito de resposta á quem sentiu-se lesado de alguma forma por ela, seria através do ombudsman, profissional, que segundo o jornalista e professor do Mackenzie André Santoro, tem como objetivo fazer “...uma crítica a publicação em que trabalha, para o aperfeiçoamento das matérias.”, além de ser um elo entre redação e leitor. O ombudsman é contratado por um período, normalmente de meses, quando não pode ter seu contrato rescindido – mantendo assim a liberdade para criticar.

Mesmo a VEJA, revista semanal com maior tiragem no país, ( 1,2 milhões de exemplares semanais ), foi fundada em 1968, que tem grande influência na opinião pública, está sujeita a erros. Segundo Ricardo Noblat, quem deve ser responsabilizado nestes casos são “o repórter, o editor e o diretor.”. As dificuldades encontradas pelos jornalistas na apuração dos fatos são muitas, “...Primeira: dificuldade de acesso às fontes. Segunda: tentação de contar a história pelo ângulo que lhe pareça mais atraente - o que nem sempre significa que esteja contando pelo ângulo certo. Terceira: a preguiça de ouvir todos os lados de uma matéria.” Argumenta Noblat.

Iniciativas de profissionais da área também servem para tentar abordar e fiscalizar a imprensa. Um exemplo é o BLOG “Contrapauta”, de Alceu Nader, hospedado no site “Observatório da imprensa”. Estas duas páginas tem como objetivo analisar grandes veículos de comunicação. Mas o caminho que pode levar ao erro em uma reportagem é o mesmo que pode levar críticos a serem incoerentes. É o caso da publicação Veja ignora atualização sobre reflexos da gripe do frango no Brasil”, postada no BLOG de Nader. Nela é apontada uma suposta desatualização de dados da notícia: “A gripe aviária até agora fez bem ao Brasil”, escrita por Camila Pereira na edição de 8 Março de 2006 da VEJA. Apenas o primeiro parágrafo desta é citado por Nader, que usa para provar a sua tese dados de outros grandes jornais. Se tivesse postado na íntegra o que Camila escreveu, constataria que os números coincidem com os outros veículos, e a defasagem não ocorreu.

Mas apesar de todos os esforços, Santoro diz que o maior regulador da imprensa ainda é a sociedade, os leitores e personagens de pauta. A contribuição que os profissionais da área podem oferecer é, assim como em outras profissões, não á ética jornalística, e sim, segundo Noblat, “... existe simplesmente ética...”, o que vemos faltar diariamente com os representantes políticos do povo. Para que ela prevaleça, “Dependerá sempre do grau de honestidade de cada um. Do empenho em tentar oferecer das história, de qualquer história, o que lhe pareça a melhor versão.” conclui Noblat.