quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Vem de Berço


Allan Jofre

Assistimos a morte banalizada todo dia nos programas de fim de tarde, e sempre é citada a crueldade de quem comete o crime, e o grau de marginalização desse indivíduo colocado como o responsável pela situação. No Brasil a busca pelo impacto na sociedade é uma meta para esses jornais, o estranho é que quando surge um caso de brutalidade seguido de morte, começam a surgir uma sucessão de matérias assim, seria uma coincidência ou seria um destaque maior para esta sessão?

O ser humano deve ter uma moradia, um plano de saúde que funcione, água, um sistema eficiente de saneamento básico, diversão, educação, e o pão de cada dia, quem não tem estes recursos deve sim reivindicar, pois é um direito do Estado dar o básico para a população, mas, e aquela família que tem uma renda de 300 reais mensais, que o filho pequeno brinca de ser bandido, e vê ali perto de sua casa um futuro próximo a ele, e todo um status no mundo em que vive. O garoto presencia dentro da sua casa o pai desamparado, a mãe doente, os irmãos chorando de fome. A escolha feita é o crime, o mesmo que ele corre desde que se deu por gente, que já faz parte da sua vida e do seu dia-a-dia. Essa escolha não é feita só porque é o caminho mais curto, mas é um caminho palpável e único na vida desse menino, que cria a quebra da censura se tratando de morte, e também quebra todo um sentido para vida, já que a dele é só mais uma. Agora, se esse cidadão sofrido, desce o morro, e em um assalto mata uma senhora de classe média alta, ele vai para a prisão, e lá é tratado como um animal, aflorando seus instintos e trazendo uma regressão dentro do seu convívio e do modo de enxergar as coisas, ele nunca vai ser reabilitado dentro da prisão, no sistema atual.

Eu ouvi uma estudante dizendo “dentro da prisão há uma seleção de presos, eles mesmos tem controle de quem deve ou não deve morrer.”, eu penso que não seria uma “justiça com as próprias mãos” e sim, um estouro nos instintos primários do ser humano, em luta a sobrevivência, é como o rapper Mano Brown diz na letra de Diário de um Detento sobre a sua estadia no Carandiru “Já ouviu falar de Lúcifer? Que veio do Inferno com moral. Um dia no Carandiru, não, ele é só mais um. Comendo rango azedo com pneumonia.”. O sistema carcerário atual do Brasil não serve para reestruturar e sim expor ainda mais as dores e a visão de que não existe vida. E ouvimos pessoas falando em pena de morte, um país que não tem um poder de julgar o que é certo e errado, quem é culpado ou inocente, jamais deveria pensar nessa hipótese que é um retrocesso imenso, onde o Estado se iguala ao autor do crime. O massacre do Pavilhão nove no Carandiru é um exemplo cruel de um pena de morte oculta, os presos morreram por quererem seus direitos, e como esse pavilhão só tinha casos de crimes gravíssimos, “Fleury e sua gangue” como diz Mano Brown, acabam fazendo um extermínio de presos.

Seria fácil para a classe média da sociedade essa adoção da pena de morte, pois existe uma imunidade. A pena de morte é uma visão de eliminação do ser sofrido, e mal estruturado, é um meio fácil para acabar com a marginalidade, mas assim o marginal de agora é o centro, é o Estado, que mata os próprios erros para utopicamente concertá-los, eliminando o próprio futuro, e quem sabe uma possível solução.

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