quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Negócio-Ócio


Allan Jofre

Andando pela cidade de São Paulo encontramos dentro de ônibus e trens a verdadeira fonte do funcionamento de um país. Estamos trabalhando para que a máquina do capital funcione, mas é difícil pensar que mesmo nas horas de folga vivemos em função da fonte de renda.

Vemos mendigos pedintes, esses que não pensam no prazer e sim na sobrevivência, engravatados com o celular na mão, esses que se esquecem da família em um copo de whisky, e os meros funcionários com uma pasta na mão lutando contra o tempo para não serem chicoteados pelos chefes, que querem o seu “cowboy” no fim do dia.

É muito subjetiva a idéia do chamado “ócio”, já que esse deveria ser o descansar, o aproveitamento de sua casa junto com as pessoas que realmente fazem bem para gente. Mas não. Trocamos esse tempo pela companhia de pessoas que tendem a ser iguais a nós no mundo da correria e, mesmo assim, os assuntos não mudam, são sempre as críticas ao chefe ou a infelicidade de se ganhar uma promoção. Digo infelicidade, pois se for contemplado com um cargo maior, parabéns, provavelmente você se tornará mais individualista e ambicioso.

Família “é quem você escolhe pra você”, “quem cria”, ou até o famoso clichê “papai mamãe, titia”. As interpretações são muitas, mas será que o valor dado ao nosso “negócio”- que para muitos é a negação do ócio - é tão importante como quem realmente faz a gente crescer na vida? Nesse âmbito urbano não nos apegamos muito mais àqueles que vemos dentro dos arranha-céus? Quantos amigos você tem? Há quanto tempo você não faz um churrasco com quem o ajuda de verdade? E uma reunião de negócios?

Nessas breves palavras não quero dizer o que é certo ou errado, o que é ser feliz ou triste, mas provocar uma reflexão sobre se o que estamos fazendo é para o nosso próprio bem ou para o bem de um sistema econômico. A felicidade se encontra, como pergunta Tom Zé, “Do outro lado do avesso? Do outro lado do abismo? Do outro lado do arco-íris?”. Não sei, mas vou ocupar meu tempo com a minha família e tentar esquecer temporariamente o meu negócio, pois como diz a poesia de Lobão, “a vida é doce depressa demais”.

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