quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Um Obrigado Virtuoso. (Crítica DVD "Obrigado Gente" de João Bosco)




Allan Jofre

Do grito do ronco da cuíca até o tiro de misericórdia, das escadas da Penha até a saída de emergência. João Bosco mostra nessa sua apresentação sucessos como “Papel Machê”, “Linha de Passe”, “Jade” e “O bêbado e a equilibrista”. Com participações especiais de Djavan, Hamilton de Holanda, Yamandú Costa e Guinga, o violonista e compositor mostra todo seu virtuosismo no instrumento, suas vocalizações marcantes e toda riqueza da brasilidade nas suas letras, sempre com parcerias primordiais.

João Bosco, que já gravou um álbum ao vivo só voz e violão e que ficou conhecido como a Centésima Apresentação, sempre se destaca no palco pela energia, não só pelo “feeling” no instrumento que o acompanha, mas sim, pela força na voz, e “brincadeiras” com as vogais que lhe são peculiares.

O “set list” do show é destacado por parcerias do músico com Aldir Blanc, grande músico e psiquiatra que ficou famoso pela sua parceria com João nos anos 70 graças à cantora Elis Regina, e com Wally Salomão, grande escritor e produtor musical. Uma das crias de Wally foi Cássia Eller. A participação do violonista Guinga no DVD resgatou a parceria de João Bosco com Blanc, eles haviam passado anos sem compor juntos, e com a ligação de ambos com Guinga a parceria retornou.

Na música “Linha de Passe”, encontramos dois músicos de alta qualidade, virtuosismo e brasilidade no instrumento, Ney Conceição no contrabaixo de seis cordas mostra sua “arte autodidata”, o baixista sola nos graves com segurança e técnica apurada. Hamilton de Holanda também participa da faixa, um duelo de bandolim, grave do baixo e violão trazem o “êxtase” da música. Hamilton é da nova safra de músicos cobiçados por grandes nomes da MPB, gravou um cd de samba com Zélia Duncan. A banda em uma sincronia perfeita, com o seu maestro no violão, dá a base para os solos “metralhantes” de Hamilton no bandolim e Ney no baixo.

Yamandú Costa, músico novato, mas de muita experiência e reconhecimento, participa na faixa “Benzetacil”. Yamandú com seus solos sujos e de uma velocidade sem igual, é um ídolo de João Bosco, aliás, o violonista é admirado também por Toquinho. Hamilton de Holanda fez uma série de shows com Yamandú, a preocupação dos dois era no atropelamento das notas, mas as apresentações foram um sucesso, souberam dividir bem o bombardeio de sons exalados pelos seus instrumentos.

Assistindo a apresentação conseguimos ver o passado e o futuro da música brasileira, deveríamos dar mais valor ao que há dentro de nosso país, elogiamos guitarristas técnicos, mas desconhecemos os nomes do nosso virtuosismo seja ele em qualquer instrumento.

O espetáculo inicia seu desfecho com “Corsário”, a participação de Djavan harmoniza com a letra poética da canção, a voz suave e ao mesmo tempo energética do cantor faz com que a faixa se torne um dos altos do show. Na seqüência a canção mais famosa do repertório “O Bêbado e a equilibrista”, que ficou mortalizada na voz de Elis Regina. A música carrega um valor histórico pesado, já que no tempo da ditadura o som trazia uma indignação e uma crítica ao poder militar e uma valorização do povo brasileiro.

Após “Quando O Amor Acontece”, parceria de João com Abel Silva, compositor e escritor brasileiro. O músico fecha a apresentação com “Papel Machê”. Um grande desfecho para essa grande mostra artística, deste personagem da música brasileira que é criticado por muitos, pois o seu método de cantar é diferenciado, mas que foi contemplado com muitos aplausos pelos que admiram o violão bem tocado e um cantar fora de padrão. Sem dúvida, gostando ou não, “Obrigado Gente!” é uma demonstração da tradicional e da atual música brasileira, clássicos na mão de virtuosistas jovens quebram um possível debate sobre a qualidade do futuro da nossa arte.

3 comentários:

  1. Os músicos são excelentes. Todos.
    Acho que o pessoal do sopro merecia, também, comentários.
    O baterista (Kiko Freitas) e o percussionista (Mestre Marçal) são gênios.
    Nenhuma linha sobre eles? Afinal, foram os que seguraram todo o show.
    E o solo de guitarra na primeira faixa?
    Abraços.

    Damasio (Rio de Janeiro/RJ)

    ResponderExcluir
  2. O show só não foi impecável porque, justamente, o Bosco não fez a apresentação dos músicos.
    Achei falta de consideração, principalmente pela competência e pela garra de todos eles.

    Damasio

    ResponderExcluir
  3. Sim, perdoe meu erro amigo. Mas sim, se não fossem os outros músicos o show não seria de tamanha excelência.
    Me desculpo salientando a grandeza virtuosa de Marçal e Kiko que tem um histórico bastante relevante quanto qualidade musical e essência brasileira.
    Grato pela crítica.

    ResponderExcluir